Queridos irmãos, com muita, muita alegria no coração, dirijo uma saudação de boas-vindas a todos e a cada um de vós!
Imagino o quanto este momento foi esperado por todos, e imagino que também vós tenhais vivido o pesar de terem sido obrigados a cancelar, por diversas vezes, o encontro preparado há tanto tempo. Mas, como sempre acontece, algo há muito tempo esperado, geralmente se torna mais valioso; e todos nós queremos que seja realmente valioso.
Nesse espaço de tempo, a pandemia nos obrigou a adiar ainda por mais um ano o encontro presencial dos Capuchinhos da América: será, se Deus quiser, em maio de 2022. Mas, desta vez, não ficamos passivos e não paramos: se não podemos nos encontrar fisicamente, o faremos, igualmente, e de forma oficial, com este primeiro compromisso on-line. Desenvolver-se-á, então, com uma série de encontros, ao longo do ano, segundo as indicações que serão dadas, periodicamente, pela Comissão preparatória, à qual agradeço desde já pelo seu grande empenho e pela eficácia do seu trabalho. Naturalmente, a responsabilidade de participar sempre e ativamente dos encontros que lhe forem propostos é vossa.
Então, eu gostaria de começar contribuindo com alguns pontos de reflexão.
1. Objetivo já parcialmente alcançado
Nestes dias, pude ler a longa e detalhada Síntese da participação dos irmãos para o Encontro Pan-Americano dos Capuchinhos. Tão somente limitando-me a considerar o grande trabalho realizado – a partir dos encontros das Fraternidades locais, para continuar com a coparticipação das diversas Circunscrições e das Conferências – o primeiro pensamento que me vem à mente é que o objetivo de animar a todas as fraternidades da Ordem nas Américas, envolvendo o máximo possível todos os frades, para buscar compreender melhor o contexto atual no qual estamos vivendo e identificar juntos os caminhos sobre os quais o Senhor quer conduzir-nos. Esse objetivo já foi perseguido com muito empenho e com muita participação. Afinal, estou convencido de que o maior e mais eficaz trabalho para nos fazer amadurecer, nos tornar conscientes das situações, e estar mais dispostos a fazer as escolhas certas, segundo Deus, é o confronto fraterno, do qual todos participam. Conseguiremos, então, realizar algo de bom – tanto ou pouco que seja – desde que isso corresponda ao que todos juntos temos conseguido compreender.
2. Algumas convicções amplamente compartilhadas
Sem a pretensão de ser de algum modo completo, parece-me oportuno, no entanto, destacar alguns temas principais que todos, direta ou indiretamente, fizestes emergir.
2.1 A responsabilidade de todos para com todos
Parece-me que o prolongado trabalho que fizestes já começou a promover, explicitamente, a consciência de que, cada um de nós, as nossas fraternidades e as nossas circunscrições, somos todos responsáveis pela caminhada dos confrades, seja qual for a área a que pertençam ou as condições concretas em que estão vivendo. Em particular, creio ser importante que tenhais expressado a vossa vontade de cuidar, não só da vossa pequena Província ou Custódia, mas de toda a realidade da Ordem, mais especificamente, neste momento, da realidade da Ordem nas Américas. De maneira um tanto provocadora (mas nem tanto!), também recentemente pedi aos frades da Europa: devemos começar a nos pensar como frades capuchinhos europeus! Estou convicto de que, à medida que cresçam o conhecimento e a atenção mútua, se poderá melhor identificar as opções de colaboração – ajuda – testemunho, apoiadas por todos, e capazes de ser significativas tanto para a nossa Ordem como para a Igreja. É necessário reconhecer que vós acolhestes com sucesso o convite expresso na carta do início do sexênio, começando a vos pensar como frades capuchinhos americanos!
2.2 A necessidade de superar os vínculos muito estreitos das ‘estruturas’
Em vossas intervenções, expressais, repetidamente, que também, em vossa grande realidade, as estruturas organizacionais (Conferências, Províncias, Custódias Gerais e Provinciais) precisam ser repensadas. Em seu relatório ao Capítulo Geral, fr. Mauro Jöhri descrevia sinteticamente a situação, destacando algumas pistas operacionais que poderiam ser percorridas. Somente com a apresentação da realidade fica clara a necessidade de fazer escolhas. Mesmo que os números por si só não digam tudo, deve-se admitir que quatro Conferências constituem uma estrutura anormal, devido ao pequeno número de frades e à “fragilidade” de diversas circunscrições que as compõem. Ao final do Encontro Pan-Americano, deverão ser tomadas decisões mais precisas, mesmo se, nesse ínterim, algumas escolhas já estejam sendo colocadas em prática.
Mas as intervenções, por vós apresentadas, também dizem algo mais, que não dizem respeito apenas ao aspecto organizativo estrutural. As ditas intervenções se referem ao fato de que às vezes as ‘estruturas’ correm o risco de limitar fortemente nosso desejo inato de estar disponíveis, de “ir” aos lugares onde nossa presença é mais necessária, especialmente onde se ergue com mais força o grito dos pobres. A dimensão ‘missionária’ da nossa vocação, tão decisiva para reavivar o nosso carisma em todos os momentos, será objeto de ulterior aprofundamento em um previsto CPO; esperamos que as condições do mundo nos permitam celebrá-lo adequadamente. Enquanto isso, me contenta o fato de saber que alguns projetos iniciais (por exemplo, a fraternidade interprovincial na Amazônia) estejam começando a tomar forma. A este respeito, convido especialmente os ministros a não terem medo de ser generosos: um grande benefício virá também para a própria circunscrição.
2.3 A abertura para a missão.
Em particular, aproveitando do quanto inequivocamente expressastes, gostaria de convidar as Províncias já bem formadas, mesmo que as estatísticas não mostrem um número muito elevado de frades, a acolher o desafio de se tornarem ‘geradoras’ de vida nova para a Ordem. Trata-se de assumir o cuidado e a responsabilidade por aquelas circunscrições da América Central e do Sul, que vivem um momento de grande fragilidade, quase impossibilitadas de caminhar por conta própria. Algumas Províncias já estão fazendo isso com muita dedicação e êxito; a elas, nossos aplausos! Mas estou convencido de que é chegado o momento de que também outras possam empreender esta estrada de compromisso e responsabilidade. Falai abertamente sobre isso e não tenhais medo de ousar, sabendo que o Senhor trabalha alegremente. Até porque, geralmente, essas aberturas generosas provocam, indiretamente, uma nova vitalidade dentro da própria Província.
2.4 A importância de implementar a colaboração
Estreitamente ligado ao tema da missão está o tema da colaboração. De minha parte, não tenho dúvidas de que a colaboração entre as Circunscrições e entre os Continentes marcará o futuro desenvolvimento da Ordem. Num mundo que se encaminha cada vez mais para a divisão e a fragmentação, queremos antes testemunhar que é possível ajudar-nos mutuamente, que a colaboração entre nós é um valor que, por si só, alarga o coração e nos torna mais ‘vivos’, e que podemos e queremos ser ‘todos irmãos’.
A primeira colaboração requerida é aquela entre vós mesmos. Em vários casos e em diversos âmbitos, já está sendo desenvolvida; penso em particular no âmbito formativo. Mas se pode e se deve fazer ainda mais, já que se vislumbram tantas outras possibilidades. Já mencionei o projeto para a Amazônia, que, ao qual poderiam somar-se outras presenças de inserção entre os mais pobres. Vós mesmos começastes a falar das Fraternidades S. Lorenzo, para as quais, porém, é necessário o envolvimento de todos. Gostaria de sugerir-vos alguma que, conservando a própria característica (interculturalidade, oração eficaz, partilha de serviços e dos ministérios, simplicidade de vida…) assuma a tonalidade de animação vocacional. A meu ver, se faz necessário este renovado empenho com a ‘animação vocacional’ em diversas áreas do vosso continente.
O outro âmbito de colaboração é aquele com os irmãos da Ásia e da África. Penso que devemos reconhecer os frutos positivos das colaborações em vigor, e assim se poderão desenvolver outras mais. No entanto, é necessário esclarecer melhor os critérios que devem nos guiar, alguns dos quais tentei expressar em linhas gerais, porém indispensáveis, no terceiro capítulo da carta do início do sexênio.
2.5 A Formação
Em relação ao tema específico da formação, creio que seja importante o quanto andastes considerando. Em primeiro lugar, a satisfação pelos centros comuns de formação inicial, que, indubitavelmente, em algumas áreas, são muito bem cuidados, e permitem aos candidatos, uma ‘visão’ e uma ‘abertura’, muito significativas, da riqueza da nossa fraternidade mundial. Todavia, não devem ser silenciadas as dificuldades e a consequente preocupação pela formação de candidatos de nossas presenças na América Central e do Sul, de língua espanhola; parece-me evidente que, nestas áreas, frequentemente, a formação inicial apresenta uma grande fragmentação e fragilidade. Então acredito que vós sois chamados a verificar juntos quais podem ser as melhores soluções. No entanto, não se pode mais colocar em discussão que:
– é necessário empenhar-se para constituir fraternidades formadoras significativas, tanto em relação ao número de frades a serviço dos candidatos, quanto pela qualidade dos mesmos;
– é de grande importância que as fraternidades formadoras em colaboração, sejam constituídas por frades das diversas áreas colaboradoras, com constante empenho de acompanhamento conjunto por parte dos respectivos ministros;
– a referência segura para os critérios, as etapas e os conteúdos formativos, não pode ser outra, a não ser a Ratio Formationis da Ordem, porque ela exprime os valores em que toda a Ordem, inequivocamente, se reconheceu;
– Acredito que nenhum ministro possa jamais pensar em agir de forma diferente no futuro.
Visto que a formação diz respeito a toda a vida, em suas múltiplas expressões e necessidades, carrego em meu coração a esperança de que este Encontro Pan-americano reforce o vosso notável empenho em ajudar-vos mutuamente, propondo a todos as tantas iniciativas úteis, compartilhando as vossas capacidades, colocando-as em prol do crescimento de todos.
Conclusão
Creio ser oportuno parar por aqui, porque, mesmo se somente acenados de forma sintética, penso que, muitos argumentos tocados, se tratados com o necessário empenho, podem tornar-se motivo de grande vitalidade para toda a Ordem nas Américas. Sinto que devo agradecer-vos muito o trabalho realizado até agora, e devo recomendar que continuem com o mesmo empenho e entusiasmo.
Não faltará a força poderosa do Espírito e a bênção do pai seráfico, que invoco, copiosamente, sobre todos e sobre cada um.
Fr. Roberto Genuin
Ministro Geral
Roma, 3 de maio de 2021.
Tradução: Fr. Jociel Gomes (Província N. Sra. da Penha do Nordeste do Brasil)