Em 12 de dezembro de 2020, na Festa de Santa Maria de Guadalupe, aconteceu o 1º Encontro de Formandos e Formadores, na caminhada de preparação ao Encontro Pan-americano dos Capuchinhos.
A abertura foi feita por Frei José Ángel, Vigário Geral, que agradeceu a iniciativa de preparação do grande encontro das Américas, na busca do que deveremos fazer daqui para frente, para contribuir com este continente da esperança, com entusiasmo e alegria, sobretudo pelos que estão crescendo na Ordem. Para ele, o grupo de pós-noviços é o futuro próximo que dá passos na Ordem, devendo trabalhar em família. Frei José Angel também disse que o Ministro Geral “anima-nos a olhar mais além de nossas circunscrições e nos sentirmos irmãos – independente da língua, cultura, região que somos – mas uma só família. Usar os Meios de Comunicação é uma porta para unir-nos em oração e coração”, disse. Em 2012 tivemos as nossas Constituições, em 2018 a Ratio Formationis e, hoje, somos chamados à Missão. Recordar a história de onde viemos é reviver a América.
Depois da abertura iniciou a apresentação dos painelistas: Frei Marco Aurélio (pós-noviço da Província do Paraná) e Frei Pedro Cesar (formador da Província de São Paulo). Frei Marco Aurélio comentou sobre a sua experiência no exterior e a colaboração no postulado. O postulado está em Punta del Leste, Paraguai, e o noviciado em Joinville, Brasil, com presença de formandos estrangeiros (tanto no Paraguai quanto no Brasil). Há uma unidade no mesmo ideal de Cristo pelos caminhos de Francisco de Assis.
Viver a unidade na pluralidade
Viver a pluralidade é sempre um desafio! Temos nossas dificuldades naturais e nossos limites. Surgiu, na live, alguns questionamentos:
- Questão da Colaboração – a Ordem percebe a necessidade de interação e integração, pois, a questão de elementos humanos preparados para a vivência em uma fraternidade internacional. Mais que fazer colaboração é necessário a comunhão. A Ratio indica que a comunhão é fundamental. Mais que a necessidade de número de irmãos é a geração da comunhão na vida fraterna, superando o provincialismo, pois o carisma não é fechado em uma única vivência, mas em uma vivência pluriforme;
- Estar aberto para experiências – A necessidade de sair de si, do próprio mundo e da realidade em que se está. A abertura para a cultura – dependendo do diálogo – saber conviver com o diferente, a linguagem, uma opção possível para gerar amplitude de horizontes, compartilhar visões e perceber que há uma conversão ativa de relacionamentos (o contato com novas culturas exige conversão);
- Criarmos relações – A experiência mostra a necessidade de interação de culturas – somos formados de uma maneira pluriforme de diversas culturas. A interculturalidade se aprende em estar no país, com o povo e com frades que lá vivem;
- A fundamental participação do povo – a diversidade da visão de Deus, a devoção à Virgem e a frequência aos Sacramentos nos ajuda compreender melhor a realidade cultural-;
- Vivência da pobreza – não só material, mas o despojamento de si, que nos faz ver que as minhas ideias não são absolutas, expropriar do desejo para realizar o encontro com o outro;
- Passar da falsa tolerância para a amabilidade – Como nos diz o Papa Francisco, a falsa tolerância aceita que o outro tenha suas ideias, “mas não abro mão das minhas”, não deixando chegar a um verdadeiro diálogo, isto é, um encontro. Caminhar com o diferente nos obriga a sair desta falsa tolerância e amar o modo de ser dos irmãos, partir para a amabilidade e começar a amar também a forma de ser e pensar do outro, como é legítimo sua forma de ver e pensar a realidade e caminhar juntos;
- Enxergar a América Latina – A vivência no exterior muda profundamente a concepção de vida, carisma, sociedade. Isso é necessário para poder ver a América Latina;
- Superar o limite do idioma – O melhor para aprender a língua é o contato com a cultura;
- Um rever da sua espiritualidade – apoiado na vivência do outro.
Frei Pedro expôs sobre a experiência intercultural e internacional que vivenciou. Disse que precisamos analisar que estas são experiências não só interculturais, mas também internacionais, porém no próprio país se pode vivenciar a interculturalidade. As colaborações entre Províncias mostram as diversas culturas dentro do Brasil. “A experiência no Norte do México foi gratificante, pois, tínhamos várias culturas e nações presentes: do Brasil (Nordeste do Brasil, Brasil Central, Minas Gerais e São Paulo), dos Estado Unidos (Califórnia e Índia). Muita colaboração e intercâmbio!”, comentou.
Sobre as novas gerações, Frei Pedro disse: “quero apontar também para uma outra questão – uma nova cultura – independente do modus vivendi, das novas gerações. Um grupo de formandos já pertence a estas novas gerações que fazem o uso da tecnologia como uma forma relacional e comunicativa. No México sentimos muito esta influência, pois estamos muito próximos. Também as várias formas de ser Igreja e das várias Igrejas. Nas Américas temos uma diferença entre o modo ser Igreja dos Estados Unidos e da América Latina, entre a do Brasil e os pais hispânicos”, comparou. Portanto, disse, “é necessário valorizar e contribuir para a colaboração das províncias, das culturas e de uma nova mentalidade. Reforçar a formação humana para receber a nova geração e os questionamentos, pensar a formação com a Ratio (institucional) que abre as realidades locais e culturais. Outro é o fenômeno das vocações adultas que é uma realidade, seja na vida religiosa ou no casamento, a nova maturidade, com idade superior aos 30 anos. É necessária uma atitude não só acadêmica, mas humana para atender esta nova realidade”, exortou.
Frei Thiago fez uma intervenção sobre sua experiência no México Sul. Ele trouxe à tona a convivência, a partilha e a quebra de paradigmas, sendo necessário abrir-se para o dinamismo do Espírito que impulsiona, tendo a sensibilidade de perceber onde os ventos nos levam. A raiz da vida religiosa é o Espírito: “Francisco de Assis traz o carisma, mas é o Espírito que abre o coração para este impulso”, disse.
Em um vídeo enviado para a live, Frei Felipe Helder Careno (da Província de São Paulo, Brasil) falou sobre a sua experiência formativa e missionária na Custódia do Norte do México. Ele foi enviado para esta missão no ano passado, em plena pandemia, e falou sobre as dificuldades com o idioma. Sua fala nos fez refletir sobre como há uma centelha carismática que nos une. Ele também abordou assuntos como o processo que está vivenciando de conhecer as realidades da nossa Ordem e da Igreja, a integração com a nova fraternidade, os costumes e mentalidade e como o carisma abarca a integração. A responsabilidade é exigida para o formando e formador, as duas realidades se unem em uma só, que é o carisma capuchinho. É necessário se submeter à nova realidade, ter abertura para responder os desafios e propostas do caminho. Além disso também há a responsabilidade da equipe formadora de integrar o formando com o novo grupo, sendo este formando alguém que já possui uma caminhada. O entrar na rotina desafiadora do dia-a-dia e da pastoral faz com que ele cresça e amadureça.
Na live, os participantes abordaram como a colaboração na formação é um passo para romper o provincialismo e sair das nossas estruturas, de uma redoma, e ver a Ordem mais amplamente. É necessário abraçar a colaboração com responsabilidade. A corresponsabilidade do formando e a do formador não é passiva, mas protagonista e que cabe a abertura para compreender a realidade que se apresenta, com desafios e belezas.
Muitos irmãos, de toda a América, participaram da live, contribuindo com questionamentos e perguntas, como:
1. Qual é a maior dificuldade que enfrenta na experiência fora do país?
A língua – há um esforço, pois não somos nativos. No Paraguai, além do castelhano, o povo fala o guarani, sobretudo os pobres e as crianças; deve-se aproveitar das experiências dos frades com mais tempo, pois eles conhecem a história e as tradições; a marca das presenças é a missão.
Frei Thiago disse que é necessário ouvir o Espírito que na tradição contemplativa, às vezes deixada pelo ativismo, deixar o Espírito atuar.
2. Há resistência em mandar frades fora da circunscrição por causa da manutenção dos serviços, das paróquias e fraternidades.
Frei Marcos falou que não só isso, mas também algumas vezes o frade que se propõe a ir está fugindo de uma realidade e usa a missão como escape. Frei Pedro complementou dizendo que é necessário apresentar um projeto maduro para os superiores, claro, mostrar interesse e capacidade, necessários para construir uma nova mentalidade. “A Ratio caminha nesta direção de integrar, isto deveria ser o assunto dos frades, este tema deveria chegar ao nosso dia-a-dia”, disse. Frei Thiago concluiu dizendo que o secretário das missões tem uma proposta de uma fraternidade internacional na tríplice fronteira amazônica.
3. Existe uma preparação dos frades para a missão?
Os convidados recordam que há, na Europa, cursos para os missionários. Na CCB é necessário abrir caminhos para uma integração dos governos, cada qual melhorando as relações e estudando o espanhol latino-americano.
Frei Marco disse que na Província do Paraná-Santa Catarina agora há um professor de espanhol peruano que ensina o espanhol latino, mas é necessário preparar não só a línguas, mas também a espiritualidade. Isso tudo, segundo eles, não deve ser imposto como obrigatoriedade, mas como abertura de si para uma formação mais ampla com metodologia e crescimento missionário. “Algumas coisas não têm curso, mas é abertura ao Espírito e convivência com o povo”, concluíram.
Ainda sobre a preparação de frades para a missão, Frei Pedro recordou a 1ª ALAC (Assembleia Latino-Americana dos Capuchinhos), em 1979 (Nova Veneza, São Paulo, Brasil), que previu o estudo da língua espanhola para os brasileiros e do português para os países hispânicos na América Latina. Também há curso de missionários providos pela CNBB e CRB. “É necessário fazer parcerias”, exortou.
Frei Thiago apresentou um comentário de Frei Arcanjo (Ministro Provincial de São Paulo): “é necessário ter disponibilidade, gratitude e gratidão. Devemos romper com estruturas quando não respondem aos valores do carisma”. Sobre essa citação, Frei Thiago afirma que a estrutura deve ajudar a levar o carisma, recordando que o nosso claustro é o mundo (Sacrum Comercium) a serviço do Evangelho. Segundo ele, ser cristão é a experiência de uma pessoa [Jesus Cristo], o esforço de nossos santos e dos nossos frades. “Estamos apoiados nos ombros de gigantes, dos que construíram a Ordem nestas terras americanas”, recordou..
Concluindo o frutuoso encontro:
Frei Pedro lembrou que em 2019 os capuchinhos de São Paulo comemoraram a chegada dos frades para fundar a missão nas terras paulistas e escreveu sobre os 130 anos a frase: “somos fruto de um sonho”. Para ele, um sonho que sonha só é só um sonho, mas se sonharmos juntos isso vira realidade é realidade, parafraseando um ditado africano. “Que o nosso sonho se torne realidade nas Américas, pois o povo merece, nossa proposta de fraternidade e organização através da pobreza e obediência – sonho do movimento de Assis”, concluiu.
Para Frei Marco, uma das muitas experiências é viver a tensão que faz crescer, pois a unidade do carisma é maior que as dificuldades. O carisma deve ser levado. “Tivemos boas iniciativas em comum no Brasil, como a missão em Juazeiro”, lembrou, recordando o encontro e missão dos pós-noviços em Juazeiro do Norte, no Ceará. Ele ainda disse que a nossa presença na internet não deve ser só virtual, mas também mística, que se torne vida. “Não somos de uma Província, somos formados nela, mas para a Ordem”, enfatizou.
Frei Thiago disse que o bastão do carisma está em nossas mãos e que devemos passar adiante, “sem egoísmos”. Além disso, disse que a primeira coisa que deve fazer o frade é rezar! Da oração sai o esforço, o empenho e uma grande energia para a missão.
O encontro encerrou com a tradicional canção mexicana La Guadalupana, no tradicional jeito do nordeste do Brasil: a sanfona, o triângulo e a zabumba.